Encontros improváveis
para quarteto vocal (SATB), flauta de bisel, acordeão mesotónico, percussão ibérica
Encontros improváveis é uma ensalada de ópera, madrigal, musical, banda sonora e baile tradicional, composta no âmbito das celebrações do quinto centenário da morte de Dom Manuel I e da viagem de circum-navegação encetada por Fernão de Magalhães e concluída ao comando de Juan Sebastián Elcano.
A partitura é da autoria de João Godinho.
O texto é da co-autoria de Graça Santos e João Godinho.
Encomenda: Festival do Estoril 2022
Duração: ca. 19'
Data de Composição: 2022
Estreia: 26 Novembro 2022 | Festival do Estoril | Academia de Ciências de Lisboa
Reposição: 28 Novembro 2022 | Festival Cistermúsica | Alcobaça
Intérpretes na estreia:
Tetraphilla Ensemble
Vanesa García, soprano
Elena Ruiz-Ortega, contralto
César Polo, tenor
Jorge Apodaca, barítono
Anna Margules, flauta de bisel
Ander Telleria, acordeão mesotónico
Daniel Garay Moragues, percussão ibérica
A partitura é da autoria de João Godinho.
O texto é da co-autoria de Graça Santos e João Godinho.
Encomenda: Festival do Estoril 2022
Duração: ca. 19'
Data de Composição: 2022
Estreia: 26 Novembro 2022 | Festival do Estoril | Academia de Ciências de Lisboa
Reposição: 28 Novembro 2022 | Festival Cistermúsica | Alcobaça
Intérpretes na estreia:
Tetraphilla Ensemble
Vanesa García, soprano
Elena Ruiz-Ortega, contralto
César Polo, tenor
Jorge Apodaca, barítono
Anna Margules, flauta de bisel
Ander Telleria, acordeão mesotónico
Daniel Garay Moragues, percussão ibérica
notas de programa
Encontros Improváveis é uma ensalada de ópera, madrigal, musical, banda sonora e baile tradicional, composta no âmbito das celebrações do quinto centenário da morte de Dom Manuel I e da viagem de circum-navegação encetada por Fernão de Magalhães e concluída ao comando de Juan Sebastián Elcano.
Proposta pelo Festival do Estoril, a ideia que esteve na génese desta partitura foi a de criar uma obra de carácter satírico na qual convergissem duas efemérides coincidentes no tempo: o quinto centenário sobre a viagem de circum-navegação e o quinto centenário sobre a morte de Dom Manuel I. Para o efeito, fui desafiado a imaginar um Encontro Improvável (porque nunca aconteceu) entre esse monarca, de cognome O Venturoso, e Juan Sebastián Elcano, o marinheiro basco que, perante a morte de Fernão de Magalhães durante a expedição, comandou o trajecto final daquela que é considerada a primeira viagem de circum-navegação na história da humanidade.
Para me acompanhar no desafio de escrever um texto que se propunha esbater as fronteiras entre o facto histórico e o delírio ficcional, convidei a Graça Santos. À medida que ambos fomos mergulhando nas descrições das fascinantes personalidades e dos espantosos acontecimentos que rodeiam esta temática, os contornos inicialmente esboçados para esta encomenda foram ganhando vida própria. Assim, desta euforia criativa, nasceu, não um Encontro Improvável, mas três.
O primeiro, decorrido algures na primavera de 1515, é uma reconstituição, de conteúdo altamente improvável, da audiência real na qual Fernão de Magalhães solicita o apoio de Dom Manuel I para financiar a sua expedição. Vendo que o soberano patrocínio lhe é recusado por motivos insondáveis, o fidalgo rebela-se, não esconde a sua disponibilidade para uma coligação com o monarca vizinho, ao estilo geringonça, e convoca marinheiros de todos os credos e nações.
O diálogo desenrola-se ao som de uma série de reencontros musicais não menos improváveis: duas canções tradicionais recolhidas em Trás-os-Montes em pleno século XX, “Mira-me Miguel” e “Sirigoça”, reencontram aqui os seus antepassados renascentistas, “Pues que me tienes, Miguel” e “Gerigonza”.
O segundo Encontro Improvável é um diálogo telepático imaginário entre Dom Manuel I e o comandante da Nau Victoria, passado algures no verão de 1521. Ao sentir-se atraiçoado pela decisão tomada por Fernão de Magalhães de procurar financiamento para a sua viagem junto da coroa espanhola, o irado monarca dera ordem de caça a todos os navios dessa expedição. Com o que sobrava de uma tripulação faminta e enferma, a nau Victoria, nos últimos meses capitaneada por Juan Sebastián Elcano, foi conseguindo esquivar-se às garras dos portugueses e, contra todas as expectativas, alcançou o tão almejado porto de Sevilha, completando assim a viagem de circum-navegação. Este episódio, que não fica aquém das mais fantásticas aventuras de ficção, foi na realidade um Desencontro Improvável.
Tem como banda sonora um épico fandango ribatejano, uma dança na Península Ibérica que remonta pelo menos ao século XVIII, e cuja coreografia nos dias de hoje se apresenta como um jogo de destreza, de desafio e afirmação masculina.
Após um interlúdio inspirado na canção transmontana Manolo Mio, segue-se o terceiro Encontro Improvável, aquele serviu de mote a toda esta aventura. Trata-se de um frente-a-frente entre o triunfante comandante da expedição circum-navegadora, Juan Sebastián Elcano e um desventurado e desconcertado monarca, Dom Manuel I, ambos finados, pois o imaginário encontro decorre algures no outono de 1526.
Também esta cena se desenrola ao som de um improvável encontro musical: o marinheiro desafia o rei venturoso para um intrépido fandango tradicional do seu País Basco, ao qual Dom Manuel riposta com um fandango de carácter palaciano, cuja partitura é atribuída a Domenico Scarlatti, aquando da sua passagem pela Península Ibérica.
Proposta pelo Festival do Estoril, a ideia que esteve na génese desta partitura foi a de criar uma obra de carácter satírico na qual convergissem duas efemérides coincidentes no tempo: o quinto centenário sobre a viagem de circum-navegação e o quinto centenário sobre a morte de Dom Manuel I. Para o efeito, fui desafiado a imaginar um Encontro Improvável (porque nunca aconteceu) entre esse monarca, de cognome O Venturoso, e Juan Sebastián Elcano, o marinheiro basco que, perante a morte de Fernão de Magalhães durante a expedição, comandou o trajecto final daquela que é considerada a primeira viagem de circum-navegação na história da humanidade.
Para me acompanhar no desafio de escrever um texto que se propunha esbater as fronteiras entre o facto histórico e o delírio ficcional, convidei a Graça Santos. À medida que ambos fomos mergulhando nas descrições das fascinantes personalidades e dos espantosos acontecimentos que rodeiam esta temática, os contornos inicialmente esboçados para esta encomenda foram ganhando vida própria. Assim, desta euforia criativa, nasceu, não um Encontro Improvável, mas três.
O primeiro, decorrido algures na primavera de 1515, é uma reconstituição, de conteúdo altamente improvável, da audiência real na qual Fernão de Magalhães solicita o apoio de Dom Manuel I para financiar a sua expedição. Vendo que o soberano patrocínio lhe é recusado por motivos insondáveis, o fidalgo rebela-se, não esconde a sua disponibilidade para uma coligação com o monarca vizinho, ao estilo geringonça, e convoca marinheiros de todos os credos e nações.
O diálogo desenrola-se ao som de uma série de reencontros musicais não menos improváveis: duas canções tradicionais recolhidas em Trás-os-Montes em pleno século XX, “Mira-me Miguel” e “Sirigoça”, reencontram aqui os seus antepassados renascentistas, “Pues que me tienes, Miguel” e “Gerigonza”.
O segundo Encontro Improvável é um diálogo telepático imaginário entre Dom Manuel I e o comandante da Nau Victoria, passado algures no verão de 1521. Ao sentir-se atraiçoado pela decisão tomada por Fernão de Magalhães de procurar financiamento para a sua viagem junto da coroa espanhola, o irado monarca dera ordem de caça a todos os navios dessa expedição. Com o que sobrava de uma tripulação faminta e enferma, a nau Victoria, nos últimos meses capitaneada por Juan Sebastián Elcano, foi conseguindo esquivar-se às garras dos portugueses e, contra todas as expectativas, alcançou o tão almejado porto de Sevilha, completando assim a viagem de circum-navegação. Este episódio, que não fica aquém das mais fantásticas aventuras de ficção, foi na realidade um Desencontro Improvável.
Tem como banda sonora um épico fandango ribatejano, uma dança na Península Ibérica que remonta pelo menos ao século XVIII, e cuja coreografia nos dias de hoje se apresenta como um jogo de destreza, de desafio e afirmação masculina.
Após um interlúdio inspirado na canção transmontana Manolo Mio, segue-se o terceiro Encontro Improvável, aquele serviu de mote a toda esta aventura. Trata-se de um frente-a-frente entre o triunfante comandante da expedição circum-navegadora, Juan Sebastián Elcano e um desventurado e desconcertado monarca, Dom Manuel I, ambos finados, pois o imaginário encontro decorre algures no outono de 1526.
Também esta cena se desenrola ao som de um improvável encontro musical: o marinheiro desafia o rei venturoso para um intrépido fandango tradicional do seu País Basco, ao qual Dom Manuel riposta com um fandango de carácter palaciano, cuja partitura é atribuída a Domenico Scarlatti, aquando da sua passagem pela Península Ibérica.
João Godinho (e Graça Santos)
Novembro de 2022
Novembro de 2022